Se libertar traz tanto prazer quanto degustar de uma tigela de prestígio.
Compara-se a ejacular, vivenciar momentos que eternizam na memória, receber um
bom dia inesperado de um sujeito que demonstra explicitamente a antipatia por
você, como, até mesmo, receber um "não" para ir a aquela festa
desejada por meses, e ter como justificava da sua mãe: “só quero te proteger,
filho.” Somos alugados pela vida para atuar nos mais variados âmbitos,
acostumar-se facilmente não é uma dádiva adaptada a generalização. E,
libertar-se, há de ser a causa de uma dor momentânea, uma saudade não curada.
Porque, no fundo, libertar-se é lembrar já - desprendido - esquecendo. Embora
saibamos ser mecanizados: o que não presta, vai para o lixo. Se valida aí
trazer a memória que a coleta seletiva não age freneticamente, comparável aos
nossos sentimentos. Como dizia o filósofo Heráclito: “nunca entramos no mesmo
rio por duas vezes”, é contraditório às estações, embora seja clara a citação,
nós nunca nos unificaremos de um só modo, adiante viverá ausente do
entristecer-se, sem comparações banais, sem doses de chateações diárias. Ao
começar uma degradação emocional, os papéis irão se inverter. Nunca, nunca
iremos nos deparar frente ao espelho igualmente estávamos ontem. A vida, nada mais
é que este clico dosado de tudo, dos mais agradáveis adjetivos e seus
antônimos. Libertar-se é não se prender a amarras que satisfaz, causadora de
euforia emocional, envolvimentos sentimentais, é perdoar a mudança, não ousar
questionar e/ou adivinhar o que a vida lhe reserva para o amanhã. Libertei-me
do sentimento canalha enraizado, dos variados tons (falsos) de
"amigo" vindo da boca de quem me rodeava, dos desejos promíscuos e
insanos. Hoje, ao meu redor priorizo quem possui equilibrado teor de aconchego,
simplicidade, sem a execução de falhas contínuas e ao cometê-las... ser pego de
surpresa com "errei, me desculpe", pessoas estas, de característica
moral admirável.
Libertar-se, em síntese, é estimular o bem, o bom, viver
tranquilamente.
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